A partir da análise do filme “Hipócrates – diário de um médico”, do diretor francês Thomas Lilti, as entidades médicas discutiram os dramas enfrentados por milhares de jovens médicos. A reflexão integra a programação do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção e conscientização sobre o suicídio.
O foco central do Setembro Amarelo promovido pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas (CRM-MG), Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SINMED-MG), Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Associação Mineira de Psiquiatria e Sociedade de Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais (SAMMG), é a prevenção de transtornos mentais e suicídios entre médicos e estudantes de medicina.
“Nossos jovens médicos estão num momento de formação difícil, por causa das limitações impostas pela Covid-19 e cheio de pressões, tanto na formação quanto na carreira. Hipócrates – diário de um médico ajuda a discutir um pouco esses limites, que podem virar um problema de saúde mental num segundo momento”, analisou o médico Frederico Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para o professor, são grandes dos jovens profissionais: aprender a lidar com a pressão, dormir pouco, dar muitos plantões e ter muitas responsabilidades. “Isso tudo, para algumas pessoas, acaba virando um grande estresse e junto com esse estresse vem o sofrimento; que pode se tornar um transtorno mental”, afirma Frederico Garcia. Ele aconselha os jovens médicos a procurar ajuda profissional, se a pressão estiver muito grande.
Para o psiquiatra Paulo Repsold, conselheiro do CRM-MG, o que fica muito evidente no filme são as condições de trabalho dos médicos, bastante precárias, especialmente num ambiente de grande pressão, como num hospital. O profissional ressalta que os novos médicos, até por conta da imaturidade, normal entre os mais jovens, têm mais dificuldades em lidar com essas adversidades. “A possibilidade de sofrimento desses médicos é muito maior, levando, muitas vezes, ao adoecimento mental”, assinala.
Frustração
Antônio Mascarenhas Oliveira, estudante do 10º período de medicina na Faculdade de Minas (Faminas) e também presidente da Sociedade dos Acadêmicos de Medicina de Minas Gerais, está se preparando para a residência. Para o futuro médico, a palavra que melhor define o filme, é frustração.
“O recém-formado vem com uma expectativa muito grande sobre a vida após a formatura. E o que vemos é que muitos se submetem a condições desumanas de trabalho, a salários muito menores do que eles esperavam quando entraram no curso e ao que era descrito como medicina”, analisa o acadêmico.
Para o conselheiro do CRM e professor da UFMG, Tarcizo Afonso Nunes, o filme Hipócrates é uma aula de ética. ”Como professor, eu sentia que havia um sofrimento grande de alunos pela pressão externa que recebiam. Aí vem o sofrimento mental”, destaca o professor. Segundo ele, a Faculdade de Medicina da UFMG tem um núcleo de apoio psicológico aos alunos e a procura por esse serviço só vem aumentando. “Há trabalhos mostrando que a possibilidade de suicídio entre alunos e médicos é maior do que no restante da população”, destaca.
Para a presidente do Conselho Regional de Medicina, Cibele Alves de Carvalho, ao chegar no hospital, o médico recém-formado precisa lidar com um turbilhão de sentimentos e sensações como o medo, a dor, tudo de forma muito intensa. Na maioria das vezes, o jovem profissional não está preparado para enfrentar tais circunstâncias. “O que a gente percebe é que quando se forma em medicina, o profissional é ainda muito jovem para lidar com tantos problemas” ressalta..
Cibele Carvalho também destaca a pressão que todos os profissionais da medicina enfrentam no dia a dia da profissão. “A exigência de não errar, o tempo todo, está muito presente na nossa profissão. O erro é humano, mas, no nosso caso, o erro pode significar um desfecho infeliz, que é a morte. Lidar com a vida e a morte é uma grande pressão. Se você não está preparado para isso, a consequência pode ser o transtorno mental”, ressalta.
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